HMS Endeavour - O Enigma do Navio Perdido é Revelado Após 250 Anos
- Thais Riotto
- 8 de ago.
- 3 min de leitura
Em um dos eventos mais significativos da arqueologia subaquática moderna, arqueólogos marinhos anunciaram a identificação de um dos naufrágios mais procurados da história: o lendário HMS Endeavour, comandado por James Cook no século XVIII.
Após 250 anos de desaparecimento, o navio foi localizado no leito do porto de Newport, em Rhode Island (EUA), encerrando décadas de investigação e mistério.
A descoberta mobilizou instituições de renome internacional e representa um marco na preservação do patrimônio marítimo global.
Histórico do HMS Endeavour
Construído em 1764 como um navio de carvão chamado Earl of Pembroke, a embarcação foi adquirida pela Marinha Real Britânica e renomeada para HMS Endeavour.
Sob o comando do Capitão James Cook, foi adaptado para expedições científicas e cartográficas. Entre 1768 e 1771, realizou uma das jornadas mais importantes da história naval:
Observação astronômica do trânsito de Vênus no Taiti.
Circunavegação da Nova Zelândia.
Descoberta e mapeamento da costa leste da Austrália.
Após a expedição, o Endeavour foi vendido e renomeado como Lord Sandwich, usado como transporte militar e, posteriormente, deliberadamente afundado em 1778 como parte de uma estratégia defensiva britânica durante a Guerra Revolucionária Americana.
A Busca Subaquática: Tecnologia e Perseverança
O projeto de localização começou em 1999, liderado por uma colaboração entre o Australian National Maritime Museum (ANMM) e a organização Rhode Island Marine Archaeology Project (RIMAP). Foram analisados 13 naufrágios históricos conhecidos na área de Newport Harbor.
A identificação definitiva veio a partir de múltiplas abordagens científicas:
Técnicas Utilizadas:
Análise dendrocronológica: confirmou a origem britânica das madeiras.
Estudos estruturais e comparativos: alinhamento exato com os planos originais de 1768.
Medições arqueológicas precisas: revelaram dimensões idênticas às registradas da embarcação de Cook.
Identificação de componentes construtivos: incluindo métodos de fixação e tipos de encaixe característicos do estaleiro britânico da época.
Condições do Naufrágio:
Apenas 15% da estrutura original foi preservada.
O navio estava sobreposto a outros naufrágios, o que dificultou análises anteriores.
Local de profundidade moderada, com sedimentação densa, que contribuiu para a conservação parcial dos materiais.
Implicações Arqueológicas e Históricas
A confirmação do HMS Endeavour é de importância global. Trata-se do navio que transportou botânicos como Joseph Banks, astrônomos como Charles Green, e fez parte de eventos cruciais do colonialismo europeu na Oceania.
Contribuições:
Fortalece o campo da arqueologia submersa aplicada à história da exploração científica.
Serve como exemplo de boas práticas em identificação náutica, combinando métodos clássicos e tecnologia moderna.
Alerta sobre a importância da proteção de naufrágios históricos, que ainda hoje podem estar ameaçados por saqueadores ou intervenções urbanas.
Debate Internacional: Divergência de Instituições
Apesar do entusiasmo, a descoberta gerou um pequeno impasse diplomático. A equipe da RIMAP considerou a declaração australiana prematura e apontou quebra de acordo sobre a divulgação.
Contudo, o ANMM manteve a posição de que a soma de evidências é definitiva.
Esse episódio ressalta a necessidade de colaboração e transparência internacional em projetos de arqueologia submersa, especialmente quando envolvem múltiplas jurisdições e patrimônios de valor global.
Futuro: Preservação e Exposição
A parte remanescente do casco está sendo protegida por uma equipe multidisciplinar. O plano é:
Catalogar os fragmentos recuperados.
Criar réplicas digitais em 3D.
Montar exposições conjuntas entre Austrália, Reino Unido e EUA.
Incluir a história do Endeavour nos currículos escolares como exemplo de ciência, navegação e ética colonial.
O reencontro com o HMS Endeavour é mais do que uma descoberta científica: é um resgate da memória marítima da humanidade.
A embarcação que abriu caminhos para a ciência e o império agora reaparece para contar sua versão silenciosa dos eventos.
E, nas profundezas do porto de Newport, as correntes continuam a guardar os restos de uma era que, finalmente, voltou à tona.
Projeto apoiado por:
Australian National Maritime Museum
Rhode Island Marine Archaeology Project
The Silent Wrecks Program
UNESCO Underwater Cultural Heritage Division





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