A enigmática Ilha conhecida como: Veneza do Pacífico
- Thais Riotto
- há 2 dias
- 4 min de leitura
Localização: Situada na costa sudeste de Pohnpei, nos Estados Federados da Micronésia, no Oceano Pacífico.
No coração do Oceano Pacífico, cercada por águas azul-turquesa e envolta em lendas que atravessam séculos, repousa uma cidade perdida que desafia o tempo e a lógica: Nan Madol, conhecida como a Veneza do Pacífico.
Localizada na costa sudeste da ilha de Pohnpei, nos Estados Federados da Micronésia, essa antiga metrópole construída sobre ilhotas artificiais permanece uma das mais impressionantes e enigmáticas obras arquitetônicas da humanidade um verdadeiro labirinto de pedra, canais e silêncio.
Uma cidade sobre o mar: geologia e origem
Nan Madol foi erguida diretamente sobre um recife de coral, em uma lagoa rasa, utilizando plataformas de basalto empilhado que pesam até 50 toneladas cada.
São cerca de 92 ilhotas artificiais, ligadas por canais estreitos que funcionavam como ruas aquáticas justificando sua comparação com a cidade italiana de Veneza.
Geologicamente, a região de Pohnpei é o cume de uma antiga montanha vulcânica submersa.
A ilha, formada por atividade vulcânica entre 8 e 10 milhões de anos atrás, está cercada por recifes de coral e ilhotas formadas tanto por sedimentação quanto por intervenção humana.
Nan Madol aproveita essa base para construir uma cidade única no mundo, com muros de até 7 metros de altura e paredes com quase 5 metros de espessura, feitas com rochas prismáticas de basalto extraídas do interior da ilha.
A forma como essas pedras foram transportadas até a costa, sem animais de carga, sem rodas e através de selvas densas, permanece um mistério até hoje. Algumas lendas sugerem o uso de magia ou levitação, o que alimenta ainda mais o fascínio pelo local.
Civilização e estilo de vida: os Saudeleur
Nan Madol foi o centro cerimonial, político e espiritual da poderosa dinastia Saudeleur, que governou Pohnpei por cerca de 400 anos.
Esta dinastia estabeleceu um governo centralizado e teocrático, impondo tributos e regulando práticas religiosas e sociais de toda a ilha a partir desse complexo urbano.
Cada ilhota tinha uma função: templos, residências reais, depósitos de alimentos, ateliês de artesãos e, especialmente, tumbas reais, como o complexo de Nandauwas, cercado por imensas paredes de basalto que ainda se erguem sobre as águas salgadas.
A vida em Nan Madol era marcada por um intenso controle social. Os nobres viviam isolados do povo, cercados por sacerdotes e autoridades.
As classes mais baixas não tinham acesso à cidade e habitavam o interior da ilha. A movimentação entre as ilhas era feita por canoas ou pequenas passagens de pedra.
Mistérios e lendas
Com o passar do tempo, os Saudeleur tornaram-se tirânicos, e a cidade passou a ser vista pelos habitantes da ilha como um lugar de medo e opressão.
Reza a lenda que um guerreiro vindo do oeste, chamado Isokelekel, liderou uma revolta que destronou os governantes e levou ao abandono da cidade por volta do século XVII.
Desde então, Nan Madol passou a ser considerada assombrada pelos próprios nativos.
Muitos habitantes de Pohnpei evitam visitar o local após o pôr do sol, acreditando que os espíritos dos antigos governantes ainda vagam por entre as ruínas. Há relatos de barulhos misteriosos, sombras que se movem entre as pedras e até canoas fantasmas flutuando pelos canais.
Além disso, dizem que qualquer pessoa que retire pedras do local é amaldiçoada e há histórias recentes de turistas que tentaram levar lembranças e sofreram acidentes inexplicáveis no retorno para casa.
Turismo e visitação: como conhecer Nan Madol
Apesar do misticismo, Nan Madol está aberta à visitação e se tornou um destino exótico e imperdível para os amantes da arqueologia, história e natureza.
Como chegar: o acesso é feito a partir da cidade de Kolonia, capital de Pohnpei. De lá, é possível chegar de carro até os arredores da costa leste da ilha e, depois, caminhar por trilhas que passam por manguezais e áreas alagadas até alcançar o sítio arqueológico. Também há passeios de canoa que levam os visitantes pelos canais da antiga cidade.
O que ver:
Nandauwas: o principal complexo funerário, com muralhas intactas.
Canalizações: ruas aquáticas estreitas e misteriosas.
Vegetação densa: as ilhotas são cobertas por árvores tropicais e manguezais, dando ao local um aspecto quase sobrenatural.
Ruínas submersas: durante a maré alta, parte da cidade fica parcialmente coberta pela água do mar, criando reflexos e imagens surreais.
Patrimônio ameaçado
Nan Madol foi reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO em 2016 e, simultaneamente, incluída na Lista Vermelha de Patrimônios em Perigo.
As ameaças são muitas: erosão, sedimentação, crescimento descontrolado de manguezais, mudanças climáticas e elevação do nível do mar.
Por ser construída sobre recifes, a cidade sofre com o avanço das águas e com o abandono estrutural. Há esforços de conservação por parte de arqueólogos e organismos internacionais, mas os recursos são escassos.
Aspecto | Nan Madol (“Veneza do Pacífico”) |
Tipo | Ruínas arqueológicas cerimoniais |
Local | Pohnpei, Micronésia |
Estrutura | Ilhotas artificiais + canais |
Origem | Séc. VIII–XII, auge em 1200 d.C. |
Declínio | Século XVII, fatores políticos e ambientais |
Status | UNESCO Patrimônio Mundial (2016) e em perigo |
Por que visitar Nan Madol?
Nan Madol é um convite ao deslumbramento. É a chance de caminhar por uma cidade ancestral, cercada de silêncio, água salgada e pedras milenares.
É um mergulho profundo em uma história ainda não totalmente decifrada, onde arqueologia, espiritualidade e lenda se misturam.
Se você busca uma experiência fora do comum daquelas que mexem com a alma e instigam a mente Nan Madol é um destino obrigatório.
Prepare-se para sentir a presença do invisível, ouvir o eco do passado e se impressionar com o que uma civilização oceânica foi capaz de construir muito antes da chegada dos europeus ao Pacífico.
Dica final para viajantes:
Leve calçados próprios para lama, roupas leves, protetor solar, repelente e muita curiosidade.
E, acima de tudo: respeite o local. Em Nan Madol, cada pedra é um elo com os antigos, e cada silêncio conta uma história que talvez não esteja pronta para ser revelada.
Comments