Ilha do Medo: Ecos Submersos na Baía dos Fantasmas
- Thais Riotto
- há 5 dias
- 3 min de leitura

Local: Município de Itaparica, Baía de Todos os Santos, Bahia/BR
A Ilha Esquecida no Coração da Baía
Em meio à vastidão serena da Baía de Todos os Santos, na Bahia, ergue-se uma pequena mancha de terra envolta em lendas e silêncio: a Ilha do Medo.
Cercada por águas calmas, a ilha mede pouco mais de 12 mil metros quadrados e pertence ao município de Itaparica.
Hoje, é parte de uma Estação Ecológica protegida desde 1991, o que a mantém isolada, selvagem e praticamente intocada.
A vegetação densa e o canto das aves marinhas são os únicos sinais de vida que se percebem à distância.
Mas, por trás da beleza serena, a Ilha do Medo carrega uma aura que o tempo não conseguiu dissipar.
Ecos do Passado: Ruínas, Segredos e o Olhar de Dom Pedro II
A história da ilha remonta ao período colonial, quando era usada como abrigo temporário para pescadores e como ponto estratégico para embarcações que cruzavam a baía.
Documentos do século XIX mencionam planos de construção de um depósito de pólvora e um quartel militar obras iniciadas por volta de 1859. Há relatos de que o próprio Dom Pedro II visitou a região, quando parte das estruturas já se erguia em pedra e cal.
Hoje, o que resta são ruínas cobertas por vegetação e o eco de passos antigos. Muitos dizem que, nas noites mais silenciosas, ainda é possível ouvir o som de martelos e vozes de trabalhadores, vindos de um passado que insiste em permanecer.
Assombrações: Onde o Medo Ganhou Nome
Poucos lugares na Bahia concentram tantas histórias misteriosas em tão pouco espaço.
Segundo antigos pescadores de Itaparica, o nome “Ilha do Medo” não é gratuito. Há quem jure ter ouvido gritos e lamentos vindos da mata em noites sem lua.
Outros falam de luzes que se movem sob a água, como se antigas almas tentassem emergir das profundezas.
Uma das versões mais contadas é a de que, durante um surto de doenças no passado, doentes e condenados foram deixados na ilha para morrer, isolados de todos. Suas almas, dizem, jamais encontraram repouso.
Outra lenda fala de um padre exilado, que se recusou a celebrar missa em uma embarcação e acabou preso na ilha, condenado à loucura.
Até hoje, alguns afirmam ouvir o som de uma reza distante misturado ao bater das ondas.
Ninguém vive na Ilha do Medo e poucos ousam passar a noite por lá.
A Face Submersa: Mergulhos, Silêncio e Ruínas Sob as Águas
Para os mergulhadores, a Baía de Todos os Santos é um mundo de descobertas submersas recifes, corais e naufrágios repousam nas águas mornas que cercam Salvador e Itaparica.
Mas a Ilha do Medo, em especial, guarda um mistério próprio.
Suas águas rasas, de cerca de 5 metros, escondem formações rochosas, raízes submersas e, segundo relatos de mergulhadores locais, estruturas antigas cobertas por limo e areia talvez vestígios das construções militares do século XIX.
Apesar da curiosidade, mergulhar ali exige cautela e autorização, já que o local faz parte de uma área de proteção ambiental.
O isolamento e as correntes da baía tornam o mergulho um desafio técnico e psicológico é preciso coragem para enfrentar o silêncio opressor que reina sob aquelas águas.
Operadoras de mergulho em Salvador e Itaparica costumam narrar as histórias da ilha com um misto de respeito e fascínio, mas poucas se aventuram a incluir a Ilha do Medo em seus roteiros.
Afinal, há lugares em que o mar parece guardar seus próprios segredos.
Um Chamado ao Mistério
A Ilha do Medo permanece como um ponto esquecido entre o real e o imaginário um fragmento da história colonial, um relicário ecológico e um espelho das crenças que moldam o litoral baiano.
Seus ecos se misturam ao vento, suas sombras ao reflexo da maré.
E quem se aproxima jura sentir algo diferente no ar: uma presença antiga, como se a própria ilha observasse silenciosa, esperando o próximo visitante ousar atravessar o véu entre o medo e o mistério.








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