Hospital Psiquiátrico de Trenton
- Thais Riotto
- há 2 dias
- 4 min de leitura
Localização: 100 Sullivan Way, Trenton, NJ 08628, Estados Unidos

Origem e Fundação
O Hospital Psiquiátrico de Trenton, oficialmente conhecido hoje como Trenton Psychiatric Hospital, é uma das instituições mais antigas dos Estados Unidos dedicadas ao tratamento de doenças mentais.
Sua história começa em 15 de maio de 1848, quando foi inaugurado como o New Jersey State Lunatic Asylum, resultado direto da campanha da reformadora social Dorothea Lynde Dix. Dix lutava para que pessoas com transtornos mentais tivessem tratamento humano e adequado, defendendo a criação de hospitais públicos estaduais.
Assim, o hospital de Trenton tornou-se o primeiro hospital público psiquiátrico do estado de Nova Jersey e um marco no início da reforma do sistema de saúde mental norte-americano.
Com o passar das décadas, a instituição passou por mudanças de nome que refletiam transformações nas concepções sobre saúde mental: de State Lunatic Asylum para State Hospital at Trenton e, finalmente, Trenton Psychiatric Hospital.
Ao longo dos séculos XIX e XX, o complexo cresceu consideravelmente, abrigando milhares de pacientes e tornando-se referência e também alvo de controvérsias na história da psiquiatria nos Estados Unidos.
Arquitetura e Estrutura
O projeto original do hospital foi concebido dentro do Kirkbride Plan, modelo arquitetônico idealizado pelo psiquiatra Thomas Story Kirkbride.
Esse conceito defendia que a própria arquitetura deveria contribuir para o processo de cura: edifícios em formato de “asas” (bat-wing), amplamente ventilados e banhados por luz natural, com jardins e áreas externas que favorecessem o bem-estar dos pacientes.
O arquiteto responsável pelo projeto inicial do Trenton foi John Notman, que seguiu as diretrizes de Kirkbride com rigor. O resultado foi uma construção imponente, de estilo neoclássico institucional, com amplos corredores, grandes janelas e uma fachada simétrica, símbolo de ordem e racionalidade.
A monumentalidade do edifício refletia o ideal de esperança e progresso que os reformadores da época associavam à medicina mental.
Com o avanço do tempo, o hospital passou por inúmeras reformas e ampliações. Novos pavilhões foram erguidos, enquanto partes do complexo original foram abandonadas ou substituídas.
Hoje, o campus apresenta uma mescla de construções preservadas, prédios modernos de atendimento e ruínas de antigas alas desativadas o que contribui para a aura histórica e, segundo muitos, também misteriosa do local.
Práticas Médicas e Período Controverso
Durante o início do século XX, o hospital de Trenton viveu um de seus capítulos mais sombrios sob a direção do médico Dr. Henry Cotton, superintendente entre 1907 e 1930.
Cotton acreditava na teoria de que infecções no corpo humano especialmente nos dentes e órgãos internos eram a causa das doenças mentais. A partir dessa hipótese, passou a realizar procedimentos drásticos como extrações dentárias, remoção de amígdalas, vesículas, cólons e até partes de órgãos internos de pacientes diagnosticados com transtornos psiquiátricos, acreditando que a “purificação do corpo” levaria à cura mental.
Essas práticas, conhecidas como “cirurgias de infecção focal”, foram inicialmente elogiadas por alguns contemporâneos, mas posteriormente severamente criticadas por seu caráter invasivo e pelos altos índices de mortalidade e sofrimento que causaram.
O período da gestão de Henry Cotton permanece como um dos mais controversos da história da psiquiatria americana e é frequentemente lembrado como exemplo dos excessos cometidos em nome da ciência.
Além disso, o hospital, como muitos asilos estaduais, sofreu com superlotação, isolamento social dos pacientes e o uso de métodos hoje considerados desumanos, como eletrochoques precoces, contenções físicas prolongadas e internações involuntárias de longo prazo. Esses aspectos deixaram marcas profundas na memória institucional e alimentaram o imaginário popular sobre o local.
Assombrações
O Trenton Psychiatric Hospital é amplamente citado em relatos de lendas urbanas, histórias de assombrações e mitos locais.
As narrativas sobrenaturais se multiplicaram ao longo das décadas, impulsionadas por seu passado trágico, pelas alas abandonadas e pelos registros de sofrimento humano que marcaram o local.
Blogues, podcasts e sites de turismo paranormal descrevem o hospital como cenário de aparições, vozes e presenças misteriosas. Alguns relatos falam de “pacientes que nunca foram embora”, vultos em corredores escuros e ecos de gritos vindos das alas desativadas.
Outros mencionam o “fantasma do Dr. Henry Cotton”, supostamente visto nas antigas salas cirúrgicas onde realizava seus tratamentos experimentais.
Situação Atual e Preservação
Atualmente, o Trenton Psychiatric Hospital continua em funcionamento, administrado pelo Estado de Nova Jersey.
Ainda oferece atendimento psiquiátrico, com leitos hospitalares e serviços clínicos devidamente credenciados por órgãos reguladores como a JCAHO (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations).
Entretanto, nem todo o complexo está ativo: várias alas históricas foram fechadas ou permanecem abandonadas, servindo como objeto de interesse para fotógrafos urbanos e pesquisadores da arquitetura hospitalar antiga.
O campus aparece com frequência em relatórios e publicações sobre preservação de patrimônios institucionais e em séries de fotografias de “lugares abandonados”.
Além do valor histórico e arquitetônico, o hospital segue inserido em debates contemporâneos sobre políticas públicas de saúde mental, como a necessidade de mais leitos, a discussão sobre internações involuntárias e os desafios da reintegração social de pacientes.
O Hospital Psiquiátrico de Trenton é, ao mesmo tempo, um monumento histórico da reforma psiquiátrica americana e um símbolo dos excessos e equívocos científicos do passado.
Sua arquitetura grandiosa, construída para curar pela luz e pelo espaço, contrasta com as sombras de sua história médica e com o imaginário de assombrações que hoje o cerca.





Tenho uma tia que morou em um local desses, as histórias que ela contava quando era pequena eram de assustadoras a triste.