Hospício Pedro II – História, Arquitetura e...
- Thais Riotto
- 20 de out.
- 3 min de leitura
Legenda dos locais no site oficial: http://www.ccms.saude.gov.br/hospicio/mapas.php
Arquitetura e Estrutura
Inaugurado em 1852 na Praia da Saudade, atualmente conhecida como Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, o Hospício Pedro II foi o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil e o segundo da América Latina.
O edifício, projetado pelos arquitetos José Domingos Monteiro, Joaquim Cândido Guilhobel e José Maria Jacinto Rebelo, é um marco da arquitetura neoclássica brasileira. Inspirado na Maison Nationale de Charenton, na França, o hospício apresenta um grande retângulo com quatro pátios internos separados por um corpo central, desenhado para impedir a comunicação entre as alas e assegurar a segregação dos pacientes.
A construção, iniciada em 1842 e concluída dez anos depois, evidencia a preocupação com a funcionalidade e controle, características comuns aos hospitais psiquiátricos do século XIX.
Pacientes e Condições de Tratamento
O Hospício Pedro II recebeu inicialmente 144 pacientes transferidos da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, distribuídos em quatro categorias de internação: as três primeiras para aqueles que podiam pagar, e a quarta destinada a indigentes, que recebiam atendimento gratuito.
As condições eram severas; indivíduos considerados agitados eram confinados em quartos fortes e amarrados em camisas de força.
Paralelamente, buscava-se promover reabilitação por meio de atividades ocupacionais, incluindo oficinas de calçados, alfaiataria e marcenaria, numa tentativa de oferecer algum estímulo produtivo e terapêutico aos internos.
Transformações ao Longo do Tempo
Com a Proclamação da República, a instituição foi rebatizada como Hospício Nacional de Alienados. Em 1893, foi criado o Pavilhão de Observação, dedicado à pesquisa e ensino da psiquiatria.
Entre 1903 e 1930, o renomado psiquiatra Juliano Moreira assumiu a direção, promovendo reformas importantes e modernizações.
O local foi palco da Revolta dos Loucos em 1920, um levante de internos que resultou em destruição de instalações e confrontos com autoridades, marcando a criação do primeiro manicômio judiciário do Brasil em 1921.
Apesar das reformas, o hospício enfrentou superlotação e decadência estrutural. Em 1944, todos os pacientes foram transferidos para instituições como a Colônia Juliano Moreira e o Hospital do Engenho de Dentro.
O edifício passou então à Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), integrando o campus da Praia Vermelha.
Lendas e Assombrações
O passado do Hospício Pedro II, marcado por tratamentos severos, sofrimento e mortes, gerou um imaginário coletivo rico em relatos de fenômenos sobrenaturais.
O campus da Praia Vermelha é considerado um dos locais mais assombrados do Rio de Janeiro. Muitos relatam a presença de espíritos de antigos internos, ainda vagando pelos corredores do edifício.
Entre as lendas mais conhecidas está a da “Menina da Praia Vermelha”, relacionada à jovem Maria de Lourdes, portuguesa que teria sido confinada e maltratada na década de 1930. Diz-se que seu espírito buscava justiça ou vingança, aparecendo para moradores de rua que ocupavam o local na década de 1970.
Situação Atual
Atualmente, o edifício que abrigou o Hospício Pedro II integra o campus da Praia Vermelha da UFRJ, sendo conhecido como Palácio Universitário. Mantém-se como marco histórico da saúde mental no Brasil, simbolizando as transformações nos métodos de tratamento, a evolução da psiquiatria e a complexa relação entre sociedade, ciência e poder.
Além de suas funções acadêmicas, o local preserva sua memória e continua a ser objeto de interesse cultural e histórico, tanto pelo estudo da arquitetura quanto pelas histórias e lendas que atravessaram gerações.
Sobre o Livro
O livro O Hospício da Praia Vermelha: do Império à República (Rio de Janeiro, 1852–1944), organizado por Ana Teresa A. Venancio e Allister Teixeira, oferece uma análise aprofundada da história do Hospital Nacional de Alienados (HNA), inaugurado em 1852 no Rio de Janeiro.
Esta obra coletiva reúne contribuições de diversos especialistas, incluindo historiadores, psiquiatras, antropólogos e filósofos, proporcionando uma visão multidisciplinar sobre a instituição.
A pesquisa aborda a evolução do HNA desde sua fundação no período imperial até sua transformação em instituição republicana, destacando as mudanças nas práticas psiquiátricas, nas políticas de saúde mental e nas relações sociais e culturais em torno da loucura.
O livro utiliza novas fontes documentais e metodologias contemporâneas para revisitar a história do hospício, oferecendo uma perspectiva crítica sobre seu papel na sociedade brasileira.
Além disso, a obra examina episódios significativos, como a Revolta dos Loucos de 1920, que evidenciam as tensões entre internos e autoridades, refletindo as complexas dinâmicas de poder e resistência no contexto institucional.
Ao integrar diferentes abordagens teóricas e metodológicas, o livro contribui para uma compreensão mais rica e diversificada da história da saúde mental no Brasil.









Comentários