Casarão Assombrado à Beira-Mar
- Thais Riotto
- 21 de ago.
- 3 min de leitura
Local: Pinacoteca Benedicto Calixto, Av. Bartholomeu de Gusmão, 15 - Boqueirão, Santos/BR
Em meio à movimentada orla de Santos, o visitante atento encontrará um pedaço intacto do início do século XX: um majestoso casarão branco de janelas amplas e colunas imponentes, cercado por jardins que parecem guardar segredos.
A Pinacoteca Benedicto Calixto, um dos maiores tesouros culturais da cidade, mas também palco de histórias que atravessam o limite entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
Origens: o esplendor do ciclo do café
A construção do casarão remonta aos primeiros anos do século passado, quando Santos era o principal porto exportador do café brasileiro e vivia uma era de riqueza e sofisticação.
Encomendado por uma influente família de cafeicultores paulistas, o projeto foi concebido para refletir status, poder e bom gosto.
A arquitetura segue o estilo eclético, combinando a robustez das colunas neoclássicas francesas com a delicadeza de vitrais coloridos, balcões trabalhados em ferro fundido e um interior rico em detalhes artesanais.
O pé-direito alto, os pisos de madeira nobre e o acabamento das molduras de gesso revelam a opulência da época e o cuidado em cada detalhe.
Na época, o casarão não era apenas uma residência: era também palco de recepções luxuosas, saraus e encontros políticos.
Há registros de que figuras ilustres da sociedade santista e paulista passaram por aqueles salões, brindando com champanhe importado enquanto a música de pianos e gramofones ecoava pela noite.
Transformação em templo da arte
Décadas depois, o imóvel foi adquirido pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, criada para preservar e difundir a obra do pintor Benedicto Calixto de Jesus (1853–1927), um mestre da pintura brasileira famoso por retratar cenas marítimas, costumes caiçaras e o cotidiano do litoral paulista. Hoje, o casarão abriga:
Exposição permanente com obras originais de Calixto, incluindo suas famosas marinhas e paisagens de Santos e arredores.
Salas de exposições temporárias, que recebem artistas nacionais e internacionais.
Biblioteca especializada em arte, aberta ao público.
Jardins históricos, que mantêm o traçado original e são um refúgio verde em meio ao movimento da orla.
Ao entrar, o visitante é recebido por salões preservados com mobiliário de época, lustres de cristal e vitrais que filtram a luz do sol com um tom quase etéreo. A sensação é de que o tempo desacelera mas, para alguns, é mais do que isso.
Fenômenos inexplicáveis: o outro lado da Pinacoteca
Funcionários, seguranças e até visitantes relatam experiências estranhas que desafiam a lógica.
Entre as histórias mais comentadas está a aparição de uma mulher vestida de branco, vista principalmente no segundo andar, espiando pelas janelas ou caminhando pelos corredores. Outros fenômenos registrados incluem:
Passos e arrastar de móveis em salas vazias.
Portas que se fecham sozinhas, mesmo sem corrente de ar.
Sussurros quase inaudíveis, como se duas pessoas conversassem discretamente.
Pinturas que, segundo alguns, parecem acompanhar o visitante com o olhar.
Uma das lendas locais diz que a dama de branco seria uma antiga moradora da casa, possivelmente a esposa de um dos primeiros proprietários, que teria morrido de forma repentina e nunca abandonou o lar.
Há ainda quem diga que um dos antigos empregados também permanece “de serviço”, sendo visto esporadicamente nas áreas de serviço e corredores menos visitados.
Investigadores de fenômenos paranormais que já passaram pelo local afirmam ter captado mudanças bruscas de temperatura, ruídos metálicos e até vozes femininas em gravações noturnas.
O casarão hoje: arte viva, passado persistente
Durante o dia, a Pinacoteca pulsa como centro cultural, recebendo escolas, artistas, pesquisadores e turistas.
É gratuita e aberta ao público, tornando-se parada obrigatória para quem quer conhecer a história e a produção artística do litoral paulista.
À noite, quando as luzes se apagam e o casarão repousa, ele parece despertar para outro tipo de vida ou melhor, para a persistência daquilo que um dia foi vivo.
Quem já participou de eventos noturnos ou visitas guiadas especiais garante que a atmosfera muda completamente: o ar fica mais denso, o silêncio mais pesado, e o som do mar, ao fundo, parece se misturar a vozes antigas.
Para o visitante corajoso
Seja para contemplar obras de arte ou para sentir o arrepio de uma história que insiste em não terminar, a Pinacoteca Benedicto Calixto é uma parada única em Santos.
É um lugar onde o presente conversa com o passado e onde, talvez, as paredes guardem mais do que memórias guardem presenças.
Site Oficial: https://pinacotecadesantos.org.br





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