A Mansão LaLaurie: Ecos de Horror está à venda!!
- Thais Riotto
- 5 de jun.
- 5 min de leitura
Local: Esquina da Royal Street com a Governor Nicholls, New Orleans/USA

No coração do Bairro Francês de New Orleans, na esquina da Royal Street com a Governor Nicholls, ergue-se uma estrutura imponente de três andares, adornada por varandas de ferro fundido.
Mas por trás das janelas escuras da Mansão LaLaurie se esconde uma das histórias mais macabras e infames da era escravocrata no sul dos Estados Unidos — um passado tão carregado de dor e horror que, dizem, reverbera até hoje nos corredores vazios do casarão.
Valor de venda: 56 milhões
Localização e Contexto Histórico
Situada na 1140 Royal Street, no coração do Bairro Francês de Nova Orleans, a Mansão LaLaurie é uma construção em estilo neoclássico, erguida em 1832. À primeira vista, a edificação impõe respeito: sacadas de ferro fundido, janelas altas e uma aura de sofisticação sulista. No entanto, por trás de sua elegância arquitetônica, a casa carrega um passado obscuro, onde a dor, a crueldade e os gritos silenciosos de vítimas inocentes ainda parecem ecoar pelas paredes.
A História Real: Madame LaLaurie
Delphine LaLaurie, nascida Marie Delphine Macarty em 1787, era uma mulher da aristocracia crioula de New Orleans. Filha de uma família influente, casou-se três vezes, sendo o último marido o médico Louis LaLaurie. Em 1831, o casal comprou o imóvel onde hoje está a famosa mansão — um edifício originalmente construído em estilo neoclássico, símbolo do poder e da sofisticação da elite branca da época.
Delphine cultivava uma imagem de dama refinada, cordial com os vizinhos e anfitriã de bailes e jantares luxuosos. No entanto, rumores crescentes sobre a forma como tratava seus escravizados começaram a inquietar a comunidade local. Algumas testemunhas relataram gritos, correntes arrastando-se no subsolo, crianças desaparecidas.
Mas foi somente em 10 de abril de 1834, quando um incêndio deflagrou na cozinha da mansão, que o segredo sombrio por trás das paredes de Delphine veio à tona.

O Incêndio e a Descoberta do Horror (10 e Abril do ano de 1834)
O fogo começou misteriosamente, e quando os bombeiros e cidadãos entraram para apagar as chamas, encontraram algo tão terrível que muitos ficaram marcados para o resto da vida. No sótão, havia um quarto escondido onde sete escravizados foram encontrados acorrentados, mutilados, famintos e em estado de putrefação viva. Havia corpos com ossos quebrados e mal curados, outros com buracos na cabeça, em que supostamente Madame LaLaurie teria tentado experiências pseudocientíficas.
A lenda diz que havia uma mulher com as costelas abertas como asas, outra que tinha a boca costurada com excrementos, um homem com a pele arrancada. Alguns estavam ainda vivos, outros mortos há dias. A cena era infernal — literalmente.
Ao saber que sua casa seria invadida, Delphine fugiu montada em uma carruagem, cruzando o Mississippi e, dizem, refugiando-se em Paris. Nunca mais voltou.
Cultura e Tradição: O Trauma na Alma de New Orleans
New Orleans é uma cidade moldada pela fusão de culturas, africana, francesa, espanhola e indígena, um caldeirão místico onde o passado é mais presente do que se imagina.
No caso da Mansão LaLaurie, essa memória é quase insuportável. Ela representa não apenas um crime hediondo, mas uma ferida aberta do racismo estrutural e da brutalidade da escravidão.
Na cultura crioula e no vodu da Louisiana, lugares com sofrimento extremo podem “absorver” o trauma, tornando-se portais para o mundo espiritual. A mansão tornou-se uma dessas portas. Até hoje, visitantes relatam sensações físicas — náusea, tontura, frio intenso — ao se aproximar do local. Guias espirituais se recusam a entrar. Videntes falam em almas presas, espíritos clamando por justiça.
Não é raro que praticantes do vodu façam pequenas oferendas nas calçadas da Royal Street: moedas, rum, pétalas de flor ou ossos de galinha, tentando apaziguar o espírito dos mortos.
Mais do que uma casa mal-assombrada, a Mansão LaLaurie é um símbolo da hipocrisia social, onde o verniz da aristocracia escondia a selvageria do racismo e da escravidão.
A história da mansão convida à reflexão sobre:
A romantização do sul escravocrata.
A brutalidade sistemática imposta aos africanos e seus descendentes.
O apagamento histórico de vítimas que raramente foram nomeadas.
Na Cultura Popular
A figura de Delphine LaLaurie foi retratada em diversas obras:
American Horror Story: Coven (2013) – Interpretada por Kathy Bates, em uma versão ficcional brutal e poderosa.
Documentários, livros e vídeos investigativos exploram as lendas e os fatos históricos da mansão.
Ela se tornou um ícone do horror gótico americano, unindo terror psicológico, violência histórica e sobrenatural.
Eternas Moradores
Após o incêndio de 1834, a mansão passou por várias reformas e diferentes proprietários. Nenhum permaneceu por muito tempo. Os relatos de atividades paranormais são abundantes:
Gritos noturnos: Moradores dizem ouvir lamentos, correntes sendo arrastadas e gritos abafados vindos do andar de cima.
Aparições: Há registros de figuras espectrais, especialmente de uma jovem escravizada que teria pulado do telhado tentando escapar de um castigo.
Perfumes e podres: Alguns visitantes dizem sentir cheiros de perfume francês entrelaçados com odores de carne queimada.
Toques invisíveis: Pessoas relatam serem empurradas, arranhadas ou tocadas por mãos invisíveis dentro da mansão.
Espelho amaldiçoado: Um espelho encontrado durante uma reforma refletia imagens de escravizados acorrentados — mesmo estando vazio.
Nicolas Cage e a Maldição Moderna
Em 2007, o ator Nicolas Cage comprou a mansão por 3,5 milhões de dólares — sem saber, ao que parece, de toda a carga espiritual do imóvel. Pouco depois, sua carreira entrou em declínio, ele declarou falência e teve de vender a casa. Mais tarde, em entrevistas, referiu-se à compra como uma das piores decisões da vida.
Há quem diga que a casa carrega uma maldição de ruína e desespero para qualquer um que tente se beneficiar dela.
Memória e Justiça
Hoje, a Mansão LaLaurie permanece fechada ao público, propriedade privada. Mas sua fachada atrai diariamente centenas de curiosos, médiuns e estudiosos. Alguns pedem justiça. Outros, silêncio. Muitos apenas olham, em respeito ou em assombro, para o que restou de uma história real de crueldade humana que, por sua intensidade, tornou-se eterna.
Na encruzilhada entre a história e a lenda, a Mansão LaLaurie é mais do que uma casa mal-assombrada: é um espelho escuro da alma de uma cidade que nunca esquece.
A Mansão LaLaurie é mais do que um ponto turístico. Ela é uma cicatriz viva na pele de Nova Orleans, onde o sofrimento ecoa através das gerações. Um lembrete de que o verdadeiro terror não vem de fantasmas, mas da crueldade humana legitimada pelo poder e pela impunidade.
Ecos de Horror em Nova Orleans não é apenas um título, é uma verdade histórica que ainda sussurra entre as paredes de uma casa de fachada impecável e alma atormentada.
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