Zugarramurdi - A Vila das Bruxas nos Pirineus Espanhóis
- Thais Riotto
- 3 de jul.
- 3 min de leitura

Localização: Província de Navarra, Espanha, próxima à fronteira com a França.
No coração dos Pirineus espanhóis, envolta por florestas densas, riachos sagrados e colinas silenciosas, repousa uma vila de nome encantado: Zugarramurdi.
Este pequeno povoado, com pouco mais de 200 habitantes, carrega um dos legados mais sombrios e fascinantes da história europeia: foi palco da maior caça às bruxas já registrada na Espanha.
Conhecida como a “Salem Espanhola”, Zugarramurdi é um destino que une mistério, natureza e mitologia ancestral, atraindo turistas e curiosos do mundo inteiro.
As Bruxas de Zugarramurdi: entre lendas e julgamentos
A fama da vila se consolidou no início do século XVII, mais precisamente em 1610, quando a Inquisição Espanhola realizou o Auto de Fé de Logroño, condenando 11 pessoas à fogueira e processando mais de 300 suspeitos de bruxaria, muitas delas vindas de Zugarramurdi e vilas vizinhas como Urdax e Sara.
Os acusados eram, na maioria, mulheres curandeiras, parteiras e praticantes de saberes naturais, que viviam em conexão com as forças da natureza, utilizando ervas, rituais sazonais e símbolos antigos.
Essas práticas, enraizadas na tradição pagã basca, foram demonizadas como “cultos satânicos” pelos inquisidores.
A Caverna das Bruxas: Sorginen Leizea
Um dos pontos turísticos mais impressionantes é a Caverna de Zugarramurdi, ou Sorginen Leizea, conhecida como “Caverna das Bruxas”.
O local foi, segundo registros históricos e mitos populares, palco de inúmeros akelarres, rituais noturnos com dança, música e oferendas em honra à Deusa da Natureza ou ao Diabo, conforme a visão inquisitorial.
A caverna é uma formação natural escavada pelo riacho Infernuko Erreka, o “Riacho do Inferno”.
Com 120 metros de comprimento e abóbadas de até 12 metros de altura, o local conserva um clima úmido, sombrio e profundamente energético. Caminhar por suas trilhas é sentir-se envolvido por um tempo que não passa, uma espiral entre o natural e o sobrenatural.
Museu das Bruxas: um resgate de vozes silenciadas
Fundado em 2007, o Museu das Bruxas de Zugarramurdi foi instalado em um antigo hospital e é hoje um centro de memória e investigação. Seus salões apresentam a complexa relação entre paganismo e cristianismo, a distorção histórica das mulheres sábias como “bruxas”, e o impacto psicológico e social da perseguição religiosa.
O acervo inclui documentos da Inquisição, trajes, caldeirões, reproduções de akelarres, representações da deusa Mari, divindade basca ligada às forças da natureza, além de recursos multimídia que criam uma atmosfera imersiva e reflexiva.
Celebrações Místicas: o renascimento das bruxas
Todos os anos, próximo ao solstício de verão, a vila revive seus rituais em uma celebração simbólica conhecida como Akelarre Eguna (Dia do Aquelarre).
Turistas e moradores se reúnem nas cavernas para celebrar com música folclórica, danças tradicionais, comida típica (como cordeiro assado no espeto) e acendimento de grandes fogueiras uma maneira de homenagear o sagrado feminino e a força da terra, com respeito e ancestralidade.
Zugarramurdi no mapa místico europeu
A vila faz parte da região de Xareta, que abrange também Urdax, Ainhoa e Sara territórios banhados por mitologia basca profunda. Essa área é povoada por lendas sobre fadas, gigantes, duendes (os iratxoak) e a poderosa Mari, uma entidade que habita cavernas e governa os elementos naturais.
Além de sua importância histórica, Zugarramurdi está cercada de trilhas ecológicas, sítios arqueológicos, rios de águas puras e formações rochosas que despertam a sensibilidade energética de quem visita.
Curiosidades Místicas
A palavra “akelarre”, que hoje significa reunião de bruxas, nasceu aqui. Em basco, significa “clareira do bode”.
A caverna era usada para reuniões noturnas que uniam música, herborismo, astrologia e invocação dos ciclos da lua.
A deusa Mari, cultuada antes da chegada do cristianismo, representa a dualidade da natureza: chuva e seca, vida e morte, luz e escuridão.
Muitos moradores locais ainda relatam sensações inexplicáveis dentro da caverna: tonturas leves, arrepios repentinos e sonhos simbólicos após a visita.
Como visitar Zugarramurdi
Acesso: A partir de Pamplona ou San Sebastián, de carro ou ônibus turístico.
Ingressos: Museu (cerca de € 4,5), Caverna (€ 4); pacote combinado com desconto.
Melhor época: Verão (junho a agosto), especialmente no solstício, para eventos especiais.
Tempo de visita: 1 dia completo é o ideal para explorar a caverna, o museu e a vila.
Dica extra: leve calçados adequados para trilha e se permita silenciar — Zugarramurdi não é só para ser vista, é para ser sentida.
Por que visitar?
Zugarramurdi não é apenas um ponto turístico. É um lugar de cura, memória e reconexão com a terra. Suas lendas não são apenas mitos: são resquícios vivos de um tempo em que a sabedoria feminina e a espiritualidade da natureza foram silenciadas — e que agora, lentamente, retornam à superfície.
Ao visitar Zugarramurdi, você atravessa portais invisíveis entre mundos e talvez, ao sair da caverna, não seja mais a mesma pessoa que entrou.
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