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Tesouros Submersos de Portugal - O Mistério dos 250 Naufrágios Esquecidos

Foto: Pesquisa
Foto: Pesquisa


O Mar Que Guarda o Passado


Ao longo dos séculos, o Atlântico português tem sido palco de aventuras, comércio, guerra e tragédias marítimas. Sob suas ondas, repousam as ruínas de mais de 8.620 navios naufragados, datados desde o início do século XVI testemunhos silenciosos da expansão ultramarina, das tempestades implacáveis e das disputas navais que moldaram a história de Portugal.


Entre esses milhares de destroços, cerca de 250 são considerados naufrágios de tesouro, contendo riquezas materiais e culturais de valor incalculável.Esses navios transportavam ouro, prata, joias, porcelanas, especiarias, tecidos e objetos de luxo vindos das rotas da Índia, do Brasil, da África e do Oriente.


A investigação, liderada por Alexandre Monteiro, arqueólogo e historiador da Universidade Nova de Lisboa, lança luz sobre o vasto patrimônio subaquático português, revelando que o mar nacional é um verdadeiro museu submerso de memórias, poder e mistério.

 

O Mapa dos Naufrágios — Números Impressionantes

De acordo com Monteiro, a distribuição dos naufrágios portugueses está organizada da seguinte forma:


  • 8.620 naufrágios mapeados em águas portuguesas desde c.1500;

  • 7.500 localizados na costa continental, espalhados do Minho ao Algarve;

  • 1.000 ao redor dos Açores, rota crucial das Armadas da Índia e das Américas;

  • 120 nas águas da Madeira, também ponto estratégico das rotas atlânticas;

  • Dentro desse universo, 250 naufrágios têm cargas de alto valor confirmadas ou fortemente indicadas por documentação histórica.


Nos Açores, concentram-se entre 150 e 170 desses navios de tesouro, com destaque para a ilha Terceira, onde 46 naufrágios já foram identificados.


Esses números reforçam o papel central do arquipélago como entreposto das rotas comerciais e militares dos séculos XVI a XVIII.

 

Tipologia dos Naufrágios — As Frotas Afundadas


Cada naufrágio conta uma história única, mas é possível classificar os achados por tipo de embarcação e época:


  1. Naus e Caravelas (séculos XV–XVII)

    As grandes embarcações da Era dos Descobrimentos, responsáveis pelo comércio de metais preciosos, especiarias e artefatos orientais.

    • Transportavam barras de ouro e prata, porcelanas da China, sedas e pimenta.

    • Exemplo: nau Nossa Senhora do Rosário (1589), afundada perto de Tróia.


  2. Galeões e Carracas (séculos XVI–XVIII)

    Navios mistos de guerra e comércio, usados entre Lisboa, Goa, Macau e o Brasil.

    • Frequentemente carregavam moedas, armas, tapeçarias, livros e artigos religiosos.


  3. Fragatas, Brigs e Bergantins (séculos XVIII–XIX)

    Embarcações menores, de comércio regional e militar, que ocasionalmente transportavam cofres e metais preciosos.


  4. Navios a Vapor e Cargueiros (séculos XIX–XX)

    Navios modernos que naufragaram em rotas industriais ou durante conflitos, levando carvão, cobre, maquinaria e tesouros pessoais.


  5. Navios Militares e Submarinos (século XX)

    Restos da Primeira e Segunda Guerra Mundial, muitos deles com armamento e instrumentos de navegação valiosos para a arqueologia.

 

Os Tesouros Ocultos — O Que Há a Bordo


As cargas desses navios variam conforme o destino e o século, mas os arqueólogos identificam cinco grandes categorias de “tesouro”:


  • Metais preciosos: ouro, prata, moedas e barras.

  • Artefatos de luxo: joias, pratarias, ícones religiosos e relíquias.

  • Mercadorias exóticas: especiarias, tecidos finos, marfim e madeiras raras.

  • Objetos culturais: cerâmicas orientais, porcelanas e arte sacra.

  • Documentos históricos: cartas náuticas, diários e registros de bordo.

 

Alguns naufrágios tornaram-se lendários por sua suposta carga preciosa, mas a arqueologia subaquática moderna busca separar mito de evidência, transformando especulação em conhecimento científico.

 

Fontes da Pesquisa — Onde Está o Conhecimento


O mapeamento dos naufrágios resulta da convergência de diversas fontes:


  • Arquivo pessoal e banco de dados de Alexandre Monteiro, reunindo séculos de relatos, crônicas, mapas e documentos de embarcações perdidas.

  • CNANS / DGPC (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática) — órgão oficial português responsável pela catalogação, proteção e estudo do patrimônio submerso.

  • Bases de dados internacionais, como o ShipLib – Nautical Archaeology Digital Library, que reúne naufrágios portugueses e ibéricos com informações sobre data, tipo e localização aproximada.

  • Projetos como o Endovélico / UCH of Portugal, que documentam o patrimônio cultural subaquático português em formato digital.

 

Essas plataformas são as chaves para identificar e georreferenciar os locais onde repousam os navios afundados.

 

Exemplos Emblemáticos de Naufrágios


Do conjunto de milhares de registros, alguns se destacam pelo seu valor histórico ou lendário:


  • Nuestra Señora del Rosario (1589) — Afundada próximo a Tróia; fontes populares afirmam que levava até 22 toneladas de ouro e prata, embora essa cifra careça de comprovação científica.


  • Nossa Senhora da Luz (1615) — Nau-capitania afundada ao largo do Faial (Açores), importante testemunho das rotas da Índia.


  • São Pedro de Alcântara (1786) — Galeão espanhol naufragado na costa da Peniche, carregando prata peruana e arte sacra.


  • Nau de Belinho (c. 1535) — Um dos registros costeiros mais antigos em Portugal continental.


  • Cais do Sodré (c. 1500) — Sítio urbano submerso de Lisboa, associado a embarcações mercantes.

 

Esses exemplos unem história, arqueologia e lenda, revelando a complexidade do legado marítimo português.


 Os Primeiros 100 Registos Históricos de Naufrágios


A base pública ShipLib fornece uma lista de 100 naufrágios portugueses documentados entre os séculos XV e XVII.


Eles compõem o alicerce dos estudos de Monteiro e são o ponto de partida para identificar os 250 navios de tesouro. Abaixo, uma amostra organizada por região e época:

 

1. Região de Aveiro (séculos XV–XVI)

  • Aveiro A, B, D, E, F (c.1400–1500)

  • Corpo Santo (c.1400)

  • Lagos 1 (c.1500)


2. Costa Central (séculos XVI–XVII)

  • Baleal 1 (Peniche, c.1575)

  • Belinho 1 (c.1535)

  • Cais do Sodré (Lisboa, c.1500)

  • Santo António (1527) — nau portuguesa naufragada em águas britânicas.


3. Açores (c.1600–1700)

  • Angra B, B1, D, E, F, G, I, J (Angra do Heroísmo, c.1600)

  • Graciosa 1 (ilha da Graciosa, c.1650)

  • Faial 1 (ilha do Faial, c.1700)

  • São Miguel 1 (c.1700)


4. Norte de Portugal (séculos XVI–XVII)

  • Foz do Douro 1 (Porto, c.1600)

  • Viana do Castelo 1 (c.1650)

  • Caminha 1 (c.1600)

  • Esposende 1 (c.1700)


5. Sul de Portugal e Algarve (séculos XVI–XVIII)

  • Albufeira 1 (c.1600)

  • Lagos 2 (c.1650)

  • Tavira 1 (c.1700)

  • Sagres 1 (c.1750)

  • Vila Real de Santo António 1 (c.1800)


Esses são registos históricos, em grande parte ainda não escavados, mas documentados em arquivos marítimos e arqueológicos.

 

O Significado Cultural e Científico dos Naufrágios


Cada naufrágio é um arquivo congelado no tempo. Eles revelam rotas comerciais, relações diplomáticas, inovações tecnológicas e até hábitos de bordo.


Para os historiadores e arqueólogos, cada peça retirada do fundo do mar é uma linha do tempo viva que conecta o Portugal dos Descobrimentos ao mundo contemporâneo.


Além do valor material, esses sítios têm potencial turístico e educativo, desde que manejados com ética e preservação ambiental.


Projetos de turismo arqueológico subaquático, como os que já ocorrem nos Açores, podem transformar o legado perdido em fonte de conhecimento e valorização cultural.

 

O Oceano Como Guardião da Memória


O mar português é, em essência, um santuário histórico submerso.Os 250 naufrágios de tesouro representam apenas uma fração de um passado muito mais vasto, que ainda repousa sob as águas do Atlântico.


Esses destroços não são apenas vestígios de ouro e prata, mas fragmentos da alma marítima de Portugal, lembranças de uma nação moldada pelo mar e para o mar.


O futuro da arqueologia subaquática portuguesa depende da preservação, do rigor científico e do respeito por esse património coletivo.


E, à medida que novas tecnologias permitem explorar profundezas antes inalcançáveis, os segredos do Atlântico português continuarão a emergir, um navio de cada vez.

 

 

 

 

Próximos Passos da Pesquisa

Como etapa seguinte, será possível:

  • Expandir a lista de naufrágios para os 250 casos mais prováveis de conter tesouros;

  • Produzir um mapa interativo (geoJSON ou KML) com coordenadas e descrições históricas;

  • Integrar dados do CNANS e da DGPC com bases públicas como ShipLib e Endovélico;

  • Elaborar relatório técnico cruzando evidências arqueológicas e documentais.

 

Essas ações permitirão consolidar um atlas completo dos naufrágios de tesouro de Portugal, unindo ciência, história e imaginação em um único projeto.

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