Os Mistérios Sagrados da Umbanda
- Thais Riotto
- 21 de jun.
- 12 min de leitura
Na Umbanda, abrir uma gira significa dar início a um trabalho espiritual, geralmente em um terreiro, onde entidades como caboclos, pretos-velhos, crianças, entre outros, se manifestam para ajudar os consulentes.
Já fechar uma gira é o encerramento desse trabalho espiritual. Envolve o descarrego do terreiro (limpeza energética final), agradecimento às entidades, cantos de despedida, encerramento dos pontos cantados e desligamento das forças invocadas.
É uma forma de respeito e equilíbrio, garantindo que tudo seja finalizado de maneira harmoniosa.
Esses dois momentos são fundamentais para manter a ordem, a proteção e a seriedade do ritual.
Tanto na abertura, como no fechamento estão as orações: Pai Nosso e a Ave Maria, defumação, cânticos e toques dos atabaques, preparando o ambiente e os médiuns espiritualmente, para abertura e para o fechamento dos trabalhos
Umbanda é mais que fé. É o som da ancestralidade ecoando nos atabaques, é a força dos ventos que guiam os barcos, é o fogo que transforma a dor em cura.
Nascida do encontro entre o sagrado africano, o espírito indígena, a fé cristã e a ciência espiritual, a Umbanda é brasileira em sua essência — diversa, acolhedora e profundamente transformadora. Sua missão é clara: caridade, equilíbrio e elevação da alma.
Origens e História da Umbanda no Brasil
A Umbanda foi fundada em 15 de novembro de 1908, em São Gonçalo (RJ), por intermédio do médium Zélio Fernandino de Moraes, que incorporou o espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ele declarou:
“A Umbanda terá fundamento, amor e caridade. Será a manifestação do espírito para a prática da caridade.”
Apesar dessa oficialização, a Umbanda já vivia nos rituais de negros escravizados, nos cultos aos antepassados indígenas e nas rezas populares. Seu surgimento representa a união entre mundos invisíveis e a luta de corpos marginalizados por dignidade espiritual. É o elo entre tradições, cultura e fé.
As Linhas Espirituais da Umbanda
Linha dos Ciganos
Representa o povo livre, viajante, místico e alegre. Carrega saberes ancestrais sobre oráculos, ervas, danças e encantamentos.
Atua na prosperidade, liberdade espiritual, leitura de cartas e magia do amor.
Entidades: Cigana Esmeralda, Cigano Pablo, Cigana do Oriente, entre outros.
Elementos: lenços, moedas, rosas, vinho, baralho cigano, danças.
Cor: dourado, vermelho, violeta.
Linha dos Marinheiros
Espíritos de antigos navegantes e pescadores.
Simbolizam a fluidez emocional, superação de dificuldades e sabedoria das águas salgadas.
Alegria, humildade, equilíbrio.
Linha dos Boiadeiros
Espíritos de homens do campo, laçadores, vaqueiros e peões.
Fortes, retos, trabalham em demandas pesadas e proteção espiritual.
Elemento: couro, chapéus, fumo de rolo.
Linha dos Malandros
Espíritos de homens boêmios, sábios da malandragem urbana.
Trabalham com leveza, inteligência, alegria e resolução de problemas com astúcia.
Entidade mais conhecida: Zé Pelintra.
Linha dos Caboclos
Quem são: Espíritos de indígenas brasileiros, guerreiros, curandeiros e líderes ancestrais.
Atuação: Trazem força, coragem, cura com ervas, sabedoria das matas e proteção espiritual.
Forma de trabalho: Firmeza na palavra, cantos fortes, uso de ervas e conhecimento da natureza.
Exemplos: Caboclo Pena Branca, Caboclo Tupinambá, Cabocla Jurema.
Linha dos Pretos Velhos
Quem são: Espíritos de anciãos negros escravizados, sábios e pacientes.
Atuação: Trabalham com humildade, fé, aconselhamento, passes de cura e desmanche de feitiços.
Forma de trabalho: Fala mansa, uso de cachimbo, café, ramos de arruda e rezas.
Exemplos: Pai Benedito, Vó Maria Conga, Pai Joaquim.
Linha dos Erês
Quem são: Entidades que se manifestam como crianças — puras, alegres e espiritualmente elevadas.
Atenção: Não são espíritos de crianças falecidas, mas entidades que trazem a vibração da infância divina.
Atuação: Curam traumas emocionais, limpam ambientes e trazem leveza e alegria aos terreiros.
Forma de trabalho: Brincadeiras, doces, guaraná, palavras inocentes com mensagens profundas.
Linha dos Baianos
Quem são: Espíritos de nordestinos, trabalhadores, vaqueiros, pescadores, rezadores e benzedeiros.
Atuação: Abertura de caminhos, proteção, sabedoria popular, firmeza e trabalho com alegria.
Forma de trabalho: Gírias, cantos animados, pimentas, comidas típicas e muita força de vontade.
Exemplos: Baiano Zé do Coco, Baiana Maria Bonita, Baiano Severino.
EGRÉGORA: A ALMA VIVA DA UMBANDA
O que é uma Egrégora?
Egrégora é uma consciência coletiva espiritual formada pela soma de pensamentos, sentimentos, rituais, crenças e intenções de um grupo de pessoas. É como um “campo espiritual vivo”, alimentado por devoção, fé e conexão energética.
Na Umbanda, a egrégora se forma por todos os médiuns, guias, orixás, entidades e fiéis que vibram em caridade, fé e evolução espiritual. Essa força espiritual coletiva protege, guia e potencializa os trabalhos realizados em nome da luz.
A Egrégora dos Povos Ciganos
A Linha dos Ciganos, embora não seja originária da Umbanda, foi abraçada pela sua vibração elevada. A egrégora cigana é ligada à liberdade, ao encantamento, ao mistério da noite, à leitura dos sinais do destino e ao amor pela beleza da vida. Composta por espíritos ciganos de diversas etnias (Kalón, Rom, Sinti, Lovara), essa egrégora é alimentada por rituais com:
Baralho cigano (Lenormand)
Dança com saias, lenços e moedas
Vinho, rosas, pedras e cristais
Fogueiras, orações, astrologia lunar
São entidades que não se submetem a dogmas — elas dançam com o tempo, curam com os olhos e encantam com a voz. Sua missão dentro da Umbanda é trazer alegria, abrir os caminhos afetivos e financeiros, e ensinar a viver com plenitude e beleza.
A Umbanda é uma religião de corpo, alma e coração. Um terreiro é ao mesmo tempo hospital espiritual, universidade da alma, lar de consolo e campo de batalha contra as dores do mundo. Ali, entidades de todas as partes do plano espiritual se unem para cumprir uma missão sagrada: ajudar a humanidade a evoluir com amor e justiça.
Como ensina um ponto tradicional:
“Umbanda é amor que vibra, é a luz que nos conduz.
Na gira dos Orixás, é a força viva de Jesus.”
OS ORIXÁS NA UMBANDA: FORÇAS DIVINAS DA NATUREZA E DA ALMA
Na Umbanda, os Orixás não são deuses distantes, mas forças vivas da natureza e princípios divinos que regem aspectos da criação, da vida humana e da espiritualidade. São emanadores de energia cósmica, arquétipos universais que se manifestam em nosso cotidiano, em nossas escolhas e em nossa evolução espiritual.
Embora a Umbanda tenha sua própria forma de cultuar os Orixás — mais simbólica e voltada à vibração energética —, suas origens estão ligadas às tradições africanas, especialmente às nações iorubá, bantu e jeje, que trouxeram para o Brasil os fundamentos da ancestralidade, da natureza e da espiritualidade ativa.
OXALÁ – O Pai da Criação, a Luz Maior
Origem: Derivado de Obàtálá, da cultura iorubá. É o mais velho e mais respeitado entre os Orixás.
História Mítica: Segundo os mitos iorubás, Oxalá foi incumbido por Olodumare (Deus Supremo) de criar o mundo e os seres humanos. Sua pureza e sabedoria o tornaram símbolo do princípio criador.
Energia na Umbanda: Representa a fé, a paz, a paciência, a serenidade e a espiritualidade superior. Sua vibração é branca, pura, elevada.
Sincretismo: Jesus Cristo.
Cor: Branco.
Dia: Sexta-feira.
Elemento: Luz e ar puro.
OGUM – O Senhor dos Caminhos e da Guerra Justa
Origem: Orixá iorubá ligado ao ferro, à guerra e à tecnologia.
História Mítica: Foi o primeiro a desbravar os caminhos do mundo com sua espada de ferro. Ogum abriu as estradas e lutou pela sobrevivência da humanidade.
Energia na Umbanda: Atua como abridor de caminhos, patrono da justiça, força e coragem. Está presente nas lutas da vida e nas batalhas internas.
Sincretismo: São Jorge.
Cor: Azul escuro e vermelho.
Dia: Terça-feira.
Elemento: Estradas, ferro e armas.
XANGÔ – O Juiz da Humanidade, Senhor do Trovão
Origem: Antigo rei de Oyó, divinizado após sua morte. Orixá iorubá da justiça e do trovão.
História Mítica: Carregava um machado duplo e governava com equidade. Sua ligação com o trovão simboliza sua ira justa.
Energia na Umbanda: Representa a justiça divina, o equilíbrio, a ética e a verdade. Atua em questões cármicas e julgamentos espirituais.
Sincretismo: São Jerônimo ou São João Batista.
Cor: Marrom, vermelho e branco.
Dia: Quarta-feira.
Elemento: Pedreiras e rochas.
OXÓSSI – O Caçador das Matas e da Sabedoria
Origem: Orixá iorubá da caça, das matas e do conhecimento.
História Mítica: Grande caçador que, com sua flecha, atinge o alvo com precisão. Representa a fartura, o sustento e o saber que vem da natureza.
Energia na Umbanda: Atua como protetor da natureza, do alimento e da busca pelo conhecimento espiritual.
Sincretismo: São Sebastião.
Cor: Verde.
Dia: Quinta-feira.
Elemento: Matas, florestas, ervas.
IEMANJÁ – A Mãe dos Mares e Rainha das Águas
Origem: Orixá iorubá associada aos oceanos e à maternidade.
História Mítica: Senhora das águas salgadas, geradora da vida e mãe de diversos Orixás. É a grande mãe espiritual.
Energia na Umbanda: Representa o amor incondicional, a maternidade, o acolhimento, a família e o lar.
Sincretismo: Nossa Senhora dos Navegantes / Nossa Senhora da Conceição.
Cor: Azul claro e branco.
Dia: Sábado.
Elemento: Oceanos e mares.
IANSÃ (OYÁ) – Senhora dos Ventos e das Tempestades
Origem: Orixá iorubá guerreira, senhora dos ventos, relâmpagos e da transformação.
História Mítica: Foi esposa de Xangô e é conhecida por sua bravura e domínio sobre os eguns (espíritos desencarnados).
Energia na Umbanda: Representa a força da mudança, da paixão, do impulso, da liberdade e da tempestade que transforma.
Sincretismo: Santa Bárbara.
Cor: Vermelho, amarelo ou rosa.
Dia: Quarta-feira.
Elemento: Ventos, raios, tempo.
OMULU / OBALUAYÊ – Senhor da Morte, Cura e Renascimento
Origem: Orixá iorubá do mistério, das doenças e da cura.
História Mítica: Foi rejeitado pela mãe e coberto por chagas. Sua redenção veio por meio da cura que ele mesmo trouxe aos outros. É o guardião dos cemitérios.
Energia na Umbanda: Atua como curador espiritual, transmutador de dores e regente das passagens entre vida e morte.
Sincretismo: São Roque ou São Lázaro.
Cor: Preto, branco e roxo.
Dia: Segunda-feira.
Elemento: Terra, areia, fogo sagrado.
OXUMARÊ – O Arco-Íris e a Força dos Ciclos
Origem: Orixá da dualidade, da renovação e da riqueza. Representa o arco-íris e a serpente sagrada.
História Mítica: É uma entidade andrógina e cíclica que liga o céu à terra. Controla a chuva e traz prosperidade.
Energia na Umbanda: Representa a força de regeneração, riqueza espiritual e equilíbrio entre opostos.
Sincretismo: São Bartolomeu.
Cor: Verde e amarelo.
Elemento: Arco-íris, chuva, serpente.
NANÃ BURUKU – A Senhora da Lama e da Ancestralidade
Origem: Orixá feminino mais antigo do panteão iorubá.
História Mítica: Avó dos Orixás, senhora da morte sagrada, que recebe os corpos na lama para devolvê-los à vida.
Energia na Umbanda: Representa a sabedoria ancestral, o tempo, a gestação e os mistérios profundos da existência.
Sincretismo: Sant’Ana.
Cor: Roxo e lilás.
Elemento: Lama, águas profundas, tempo.
OXUM – Senhora das Águas Doces, do Amor e da Prosperidade
Origem: deusa da fertilidade, do ouro e da beleza.
História Mítica: vista como uma divindade doce e poderosa. Nos mitos africanos, foi ela quem, com sua doçura e inteligência, salvou a criação do mundo quando os orixás masculinos falharam.
Energia na Umbanda: atua no campo do amor, da fertilidade, da autoestima, das emoções, da prosperidade e da maternidade espiritual. Trabalha na abertura dos corações e na limpeza de mágoas profundas.
Sincretismo: Nossa Senhora Aparecida ou Nossa Senhora das Candeias.
Cor: Amarelo ouro (também branco e azul claro, conforme a casa).
Dia: Sábado.
Elemento: Águas doces (rios, fontes, cachoeiras), espelhos, perfumes e flores amarelas.
OS GUARDIÕES ENTRE MUNDOS
Os Exus, Pombagiras, Exus Mirins e Pombagiras Mirins não são “demônios”, como erradamente difundido por preconceitos religiosos e sociais. São entidades evoluídas, experientes e conscientes, que trabalham com firmeza e sabedoria nas zonas onde os Orixás, por sua altíssima vibração, não atuam diretamente.
Eles formam o “lado de fora” da casa espiritual, os que protegem a entrada, limpam o terreiro, guardam os portais, dialogam com o mundo humano e enfrentam as trevas quando necessário. São eles que defendem o médium, resolvem conflitos cármicos e libertam o consulente das amarras invisíveis.
EXUS: SENHORES DAS ENCRUZILHADAS E GUARDIÕES DE CAMINHOS
Quem são?
Exus são entidades masculinas da Umbanda que atuam na linha da esquerda. São espíritos de antigos magos, guerreiros, alquimistas, curadores, reis, escravizados libertos e homens de rua, que passaram por longos ciclos de aprendizado e hoje trabalham para o bem maior.
Função espiritual
Guardam as casas espirituais e os médiuns;
Quebram demandas, feitiços e obsessões;
Orientam sobre o mundo material (trabalho, dinheiro, justiça, decisões difíceis);
Dialogam com espíritos perturbadores e os encaminham.
Características
São diretos, firmes, sábios, mas respeitam as Leis da Umbanda;
Usam linguagem popular, brincalhona ou provocativa;
Trabalham com bebidas, charutos, pimentas, espadas, tridentes e velas vermelhas/preta/brancas.
Exus mais conhecidos
Exu Tranca-Ruas
Exu Caveira
Exu Marabô
Exu Veludo
Exu Tiriri
Exu Sete Encruzilhadas
Exu Rei das Sete Covas
Exu não é o diabo. Eles é um espírito iluminado que transita nos caminhos densos para proteger os humanos. A associação de Exu ao mal vem do racismo religioso e da ignorância sobre a religiosidade afro-brasileira.
POMBAGIRAS: SENHORAS DAS ENCRUZILHADAS E DO FEMININO LIVRE
Quem são?
Pombagiras são entidades femininas poderosas da esquerda, ligadas à sensualidade sagrada, ao amor, à força emocional e ao domínio sobre os desejos. Foram mulheres fortes, ousadas, marginalizadas, rainhas, meretrizes, mães, feiticeiras e sábias que, após muita evolução, assumiram o papel de guardiãs espirituais.
Função espiritual
Trabalham no campo afetivo e emocional;
Resgatam autoestima, libertam da opressão, orientam sobre sexualidade e amor-próprio;
Desfazem feitiços de manipulação emocional e sexual;
Atuam também em proteção e abertura de caminhos.
Características
Fortes, sedutoras, firmes, empáticas e conscientes;
Costumam usar roupas vermelhas, pretas, saias rodadas, lenços, rosas e perfumes;
Trabalham com champanhe, cigarros, flores, joias, batons e espelhos.
Pombagiras mais conhecidas
Pombagira Maria Padilha
Pombagira Sete Saias
Pombagira Cigana
Pombagira Rosa Caveira
Pombagira Rainha
Pombagira Dama da Noite
Pombagira Menina
Pombagira não é uma prostituta espiritual, nem espírito vulgar. Ela é símbolo da mulher empoderada e liberta, que transmutou suas dores e hoje ensina a cura do feminino através da aceitação e do prazer saudável.
US MIRINS: ESPÍRITOS BRINCALHÕES E MÁGICOS
Quem são?
Exus Mirins são espíritos infantis masculinos da esquerda, conhecidos por sua irreverência, inteligência e habilidades mágicas. São travessos, mas extremamente sábios. Trabalham de forma sutil, veloz e estratégica.
Função espiritual
Desmanchar armadilhas espirituais rapidamente;
Desorientar obsessores com astúcia e velocidade;
Despertar a alegria em médiuns muito rígidos ou mentais;
Trabalham como "vigias rápidos" das encruzilhadas espirituais.
Características
Parecem crianças traquinas, mas são grandes magos disfarçados;
Costumam rir, fazer piadas e provocar — mas com respeito;
Trabalham com balas, brinquedos, doces, guizos, guaraná, pipoca e cores vibrantes. (cores fortes pimentas)
POMBAGIRAS MIRINS: ENCANTADORAS, SÁBIAS E LIVRES
Quem são?
Pombagiras Mirins são entidades infantis femininas da esquerda, que atuam com leveza, encanto e sedução pura. Trazem a doçura irreverente do feminino, o charme da infância ancestral e a alegria do prazer livre.
Função espiritual
Desbloqueiam traumas emocionais na infância;
Cortam laços energéticos prejudiciais com leveza;
Trabalham cura do feminino ferido, da criança interior e da repressão sexual.
Características
Dançam, cantam, brincam e encantam;
Usam roupas misturadas a elementos de Pombagira;
Trabalham com doces, pirulitos, guaraná, perfumes leves, bonecas e fitas. (cores fortes pimentas)
Apesar do nome e da forma leve, brincalhona ou irreverente com que se apresentam, Exus Mirins e Pombagiras Mirins não são espíritos de crianças, nem tampouco entidades infantis no sentido literal da palavra.
Essa nomenclatura – “mirim” – está ligada à maneira como essas entidades se manifestam, com características infantis, lúdicas, provocativas e leves, mas sua essência é extremamente madura, experiente e espiritualizada.
É essencial compreender que os Mirins são, na verdade, espíritos muito evoluídos, que assumem a forma simbólica de crianças travessas ou astutas para:
Atuar com agilidade em demandas espirituais densas;
Manipular energias negativas com velocidade e neutralidade emocional;
Trabalhar nos limites da moral humana, rompendo tabus para trazer libertação.
Sua “infantilidade” é uma máscara ritualística, usada como ferramenta estratégica de trabalho dentro do terreiro. Por trás do riso, do guaraná e do doce, habita um guia experiente, astuto e sábio.
“Exu Mirim não é menino. É espírito antigo com roupa de menino travesso.”
A LINHA DA ESQUERDA COMO EXPRESSÃO DE JUSTIÇA E TRANSFORMAÇÃO
A Linha da Esquerda não está “abaixo” nem “à margem” — ela está na linha de frente espiritual, enfrentando densidades, resgatando espíritos e protegendo os caminhos daqueles que buscam ajuda nos terreiros.
Ela complementa a Linha da Direita, equilibrando razão e emoção, fé e ação, luz e sombra. E, principalmente, acolhe os filhos da dor, os esquecidos, os envergonhados, os feridos, para que voltem a caminhar com firmeza.
Diferença entre Erês e Mirins
Elemento | Erês (Linha da Direita) | Exus e Pombagiras Mirins (Linha da Esquerda) |
Manifestação simbólica | Criança doce, pura, alegre | Criança irreverente, provocativa e ousada |
Campo de atuação | Cura emocional, leveza, alegria | Corte energético, feitiçaria, quebra de demanda |
Ligação com Orixás | Oxalá, Ibejis | Exus e Pombagiras |
Energia | Positiva e etérea | Neutra, limpa e ágil |
Elementos ritualísticos | Doces, brinquedos, flores | Guaraná, balas, espelhos, sinos, pimentas leves |
Fechamento da Gira.
Pai-Nosso e a Ave-Maria na Umbanda
Dentro desse ecossistema espiritual, o Pai-Nosso e a Ave-Maria são orações que permanecem vivas não por dogma religioso, mas por vibração e força espiritual real. Rezamos na abertura e no encerramento.
O Pai-Nosso: Oração Universal da Conexão Divina
A prece ensinada por Jesus é considerada uma das mais elevadas vibrações de conexão com o Divino.
Na Umbanda, ela eleva o campo vibratório, harmoniza o ambiente e prepara o corpo e a mente do médium e dos consulentes para o trabalho espiritual.
Também é usada para proteger, abrir caminhos e ancorar a presença de Oxalá, o Orixá da fé e da luz suprema.
Ao rezar o Pai-Nosso, o umbandista não está professando o cristianismo, mas sim ativando uma vibração sagrada e universal de fé, humildade e confiança.
A Ave-Maria: Oração de Doçura, Amor e Proteção
A Ave-Maria é associada à vibração materna, acolhedora e protetora, muito próxima da energia de Oxum e Iemanjá.
Sua recitação em giras e rituais cria um campo de cura emocional, limpeza espiritual e equilíbrio do feminino sagrado.
Também é uma oração de consolo, frequentemente usada em giras de Pretos Velhos e nas aberturas de sessões espirituais.
Comentários