Dalquharran Castle - O silêncio de uma joia escocesa esquecida à venda
- Thais Riotto
- 15 de out.
- 4 min de leitura

O nascimento de um ícone arquitetônico
No coração de South Ayrshire, no sudoeste da Escócia, ergue-se ainda que em ruínas o Dalquharran Castle, concebido no final do século XVIII.
Encomendado pela família Kennedy, uma das linhagens mais influentes da região, o castelo foi desenhado por ninguém menos que Robert Adam, mestre do neoclassicismo britânico.
Concluído por volta de 1790, o edifício refletia não apenas o prestígio de seus proprietários, mas também a ambição de unir a imponência de uma fortaleza medieval à sofisticação de uma mansão moderna.
Uma residência de prestígio
O projeto arquitetônico era ousado: torres cilíndricas flanqueando a fachada, parapeitos almenados que evocavam os castelos de outrora e um hall central monumental.
No interior, destacava-se uma escadaria helicoidal iluminada por claraboia, um salão oval de jantar e bibliotecas instaladas nas torres.
Esses espaços faziam da residência um palco perfeito para recepções elegantes, jantares políticos e encontros familiares de alta sociedade.
Durante o século XIX e início do século XX, o castelo hospedou não apenas membros ilustres da própria família Kennedy, mas também visitantes de renome.
Crônicas e reportagens modernas mencionam passagens de figuras políticas britânicas de peso e até conexões genealógicas com celebridades atuais, como a atriz Helena Bonham Carter. Dalquharran, assim, não era apenas um lar aristocrático, mas um espaço de encontros que cruzavam poder, cultura e história.
Transformações no século XX
A trajetória do castelo acompanhou os altos e baixos da Escócia moderna. Nos anos 1930, a propriedade foi vendida e passou a ter usos diversos:
serviu de albergue para a Scottish Youth Hostels Association;
acolheu uma escola de surdos evacuada de Glasgow durante a Segunda Guerra Mundial;
abrigou temporariamente atividades comunitárias quando a nobreza local já não conseguia sustentar seus custos.
Esse período marcou o início de uma transição: de símbolo aristocrático a bem coletivo, o castelo ainda preservava sua imponência, mas já enfrentava as pressões financeiras que o condenariam.
O início do abandono
Na década de 1960, Dalquharran tornou-se um peso insustentável. Para reduzir impostos, os proprietários optaram por uma medida radical: a remoção completa do telhado em 1967.
A decisão transformou o edifício em uma carcaça exposta às intempéries, acelerando a ruína. Desde então, o castelo permanece desocupado, entregue ao tempo e à vegetação que o invade lentamente.
Fotografias atuais revelam paredes despidas, janelas sem molduras e pisos colapsados.
O que antes fora um hall iluminado e vibrante hoje é um espaço sombrio e perigoso, classificado como inseguro para visitas internas.
Proteção e paradoxos
Apesar do estado precário, Dalquharran não deixou de ser reconhecido por sua relevância histórica.
Em 1971, foi classificado como Category A listed building, status que confere máxima proteção a edifícios de interesse nacional na Escócia.
O paradoxo, entretanto, é evidente: protegido pela lei, mas sem recursos suficientes para restaurá-lo, o castelo permanece preso entre o passado glorioso e o presente de esquecimento.
Tentativas de renascimento
Nas últimas décadas, não faltaram projetos para devolver vida a Dalquharran. Planos de transformá-lo em hotel de luxo, em empreendimento residencial de alto padrão ou mesmo em um resort com campo de golfe foram apresentados mas todos fracassaram diante de obstáculos financeiros, burocráticos ou logísticos.
O imóvel chegou a ser colocado à venda em diferentes momentos, atraindo curiosos e investidores, mas sem que qualquer iniciativa se concretizasse.
O legado de um castelo silencioso
Hoje, Dalquharran Castle permanece como uma testemunha muda da história escocesa: símbolo do esplendor de uma era, da decadência aristocrática do século XX e dos dilemas da conservação patrimonial.
Para estudiosos, é um exemplo vívido das dificuldades em manter vivas as grandes casas senhoriais, sobretudo quando o custo da preservação supera a capacidade dos herdeiros e a viabilidade comercial.
Mais do que ruínas, Dalquharran guarda memórias de encontros políticos, jantares aristocráticos e histórias de guerra.
Seu estado atual, embora melancólico, fascina visitantes e exploradores urbanos, que veem em suas paredes desmoronadas não apenas o peso da passagem do tempo, mas a força simbólica de um lugar onde o passado ainda ecoa.
Venda e leilão recente
Em junho de 2019, o Dalquharran Estate, incluindo o castelo, a antiga torre medieval, 261 acres de terra, bosques maduros e construções menores, foi colocado à venda por £800.000 pela empresa Kezia DCM Ltd.
O valor atraiu atenção, sendo comparável ao preço de uma casa geminada de três quartos em áreas suburbanas da Inglaterra, como Reigate, em Surrey.
A venda despertou interesse tanto de investidores quanto de entusiastas do patrimônio histórico, mas o alto custo de restauração e a complexidade das leis de preservação tornam o empreendimento desafiador.
Projetos de revitalização
Diversas propostas de desenvolvimento surgiram ao longo das últimas décadas, incluindo campos de golfe, hotéis, centros de conferências e resorts. Nenhuma se concretizou devido a limitações financeiras e burocráticas.
Recentemente, uma nova iniciativa propõe transformar a área em um parque de férias sustentável com 95 chalés de dois a três quartos, conciliando turismo com preservação do patrimônio. O projeto ainda aguarda aprovação das autoridades locais.
O legado silencioso
Hoje, Dalquharran Castle permanece como uma memória viva do passado aristocrático da Escócia e das dificuldades de preservação de grandes residências históricas.
Entre ruínas, vegetação invasora e histórias de hóspedes ilustres, o castelo continua a fascinar historiadores, exploradores urbanos e o público em geral, simbolizando o delicado equilíbrio entre memória, patrimônio e tempo.
Site Oficial da Imobiliária: https://www.countrylife.co.uk





Comentários