A História do Incenso
- Thais Riotto
- 25 de out.
- 3 min de leitura

Origem e primeiros registros (c. 3300 a.C. – 2000 a.C.)
O incenso tem raízes muito antigas. O próprio nome deriva do latim incendere, “queimar”.
Os primeiros registros arqueológicos datam de cerca de 3300 a 3000 a.C., na Núbia (atual Sudão), onde foram encontrados incensários da cultura A-Group.
No Egito Antigo, por volta de 2600 a.C., resinas como olíbano (frankincense) e mirra eram queimadas em rituais religiosos, templos e funerais.
Os egípcios acreditavam que a fumaça ligava o mundo terreno ao divino. Além disso, o incenso tinha função prática: purificava ambientes e disfarçava odores em cerimônias fúnebres.
Expansão religiosa e cultural (2000 a.C. – 500 a.C.)
Na Índia, já nos textos Védicos — Rigveda e Atharvaveda, escritos entre 1500 e 1000 a.C. — o uso de ervas e resinas queimadas era citado como forma de adoração aos deuses e também para bem-estar físico e espiritual.
O incenso se tornou parte integrante das cerimônias do hinduísmo e, mais tarde, do budismo.
Na mesma época, China e Mesopotâmia já utilizavam substâncias aromáticas em rituais.
Durante a dinastia Shang (c. 1600 – 1046 a.C.), eram queimadas ervas e madeiras perfumadas como oferenda aos ancestrais.
As Rotas do Incenso e a globalização da fragrância (1000 a.C. – 500 d.C.)
Entre o 1º milênio a.C. e os primeiros séculos da Era Comum, o comércio de resinas aromáticas cresceu enormemente.
A chamada Rota do Incenso ligava a Península Arábica (atual Omã e Iêmen) ao Mediterrâneo, atravessando desertos até o Egito, Roma e Grécia.
O olíbano e a mirra eram tão valiosos que, no Império Romano, custavam quase o mesmo que ouro em peso. Nessa época, o incenso entrou definitivamente na liturgia judaica e, mais tarde, no cristianismo, simbolizando as preces subindo ao céu.
O florescimento no Oriente (500 – 1500 d.C.)
Com a expansão do budismo, o incenso viajou da Índia para a China e, de lá, chegou ao Japão por volta do século VI.
Os japoneses transformaram o uso em uma verdadeira arte: o Kōdō (“Caminho do Incenso”), onde a apreciação das fragrâncias era comparada ao chá (Chanoyu) e às flores (Ikebana).
Na China medieval, o incenso tornou-se parte das práticas taoistas, de meditação e até da medicina tradicional. Acreditava-se que cada aroma tinha propriedades específicas de cura e equilíbrio energético.
Transformações e novos formatos (1500 – 1800 d.C.)
Nos séculos seguintes, o contato cultural trouxe novas formas de fabricar incenso. Antes, queimava-se resina pura em carvões.
Com o tempo, surgiram misturas em pó aglutinadas com mel, goma ou outros fixadores, originando os primeiros cones e varetas.
Na Europa renascentista, o incenso continuava restrito a usos religiosos, especialmente nas missas católicas.
Porém, com a expansão marítima, especiarias e resinas se tornaram mais acessíveis, espalhando seu uso doméstico.
Industrialização e difusão global (século XIX – século XX)
A partir do século XIX, principalmente na Índia e no Japão, a produção de incensos ganhou escala industrial.
Oficinas e empresas começaram a padronizar formatos de varetas finas, fáceis de usar em ambientes domésticos.
No século XX, com a globalização e o interesse crescente por espiritualidade oriental, meditação e práticas alternativas, o incenso conquistou o Ocidente em larga escala.
Tornou-se comum em casas, templos, centros de yoga e práticas de bem-estar.
O incenso no mundo atual (século XXI)
Hoje, o incenso é produzido e consumido globalmente. Índia e Japão ainda lideram na tradição, mas países de todos os continentes fabricam variações.
O uso é diverso: rituais religiosos, relaxamento, aromaterapia, decoração de ambientes e até terapias alternativas.
De resinas queimadas em altares no Egito Antigo ao incenso de vareta aceso em apartamentos modernos, a trajetória de mais de 5 mil anos mostra como a humanidade sempre buscou, na fragrância e na fumaça, uma ponte entre o espiritual, o estético e o sensorial.



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