Túnel dos Mortos: O túnel que liga o Hospital das Clínicas ao além-túmulo
- Thais Riotto
- há 10 horas
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Local (Aproximado): Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 255 – Cerqueira César, São Paulo/SP
A origem do Instituto Médico Legal de São Paulo
No coração da capital paulista, o Instituto Médico Legal de São Paulo conhecido como IML surgiu ainda no século XIX, acompanhando o crescimento urbano e a necessidade de um órgão especializado em perícias, necropsias e investigações médico-legais.
Durante o século XX, o IML consolidou-se como referência nacional em medicina forense, abrigando laboratórios, necrotérios e setores administrativos que funcionavam em conjunto com os serviços do Hospital das Clínicas, o maior complexo hospitalar da América Latina.
A antiga sede do IML era um prédio sóbrio e funcional, situado próximo ao Hospital das Clínicas, integrando-se à rotina médica e policial da cidade.
Ali, milhares de corpos passaram por análises que ajudaram a desvendar crimes, causas de morte e histórias humanas ocultas sob o silêncio da perícia.
Arquitetura e função do edifício
O prédio histórico do IML foi construído com fins estritamente técnicos: amplos salões para necropsias, câmaras frias, escritórios e salas de perícia. De linhas simples e austeras, sua arquitetura priorizava praticidade e isolamento, características comuns às edificações públicas de uso científico da primeira metade do século XX.
Sem adornos, mas repleto de história, o edifício simbolizava o limite entre a vida e a morte um espaço de ciência, silêncio e mistério.
O túnel subterrâneo – um caminho entre a vida e a morte
Sob o solo do bairro de Cerqueira César, foi construído um túnel subterrâneo que ligava o Hospital das Clínicas diretamente ao setor do Instituto Médico Legal.
Com cerca de 100 a 103 metros de comprimento, o corredor serpenteia sob o solo, com curvas e desníveis que o tornavam uma passagem quase labiríntica.
Sua função original era prática e discreta: permitir o transporte de corpos das alas hospitalares para o necrotério, sem expor os mortos ao público e sem interromper a rotina do hospital.
Ali passavam diariamente macas, carrinhos e funcionários, conduzindo os falecidos pelo último percurso antes do exame pericial.
Esse trajeto sombrio deu origem a inúmeras histórias, e, com o tempo, o corredor deixou de ser apenas uma passagem técnica tornou-se parte do imaginário místico e urbano paulistano.
Os nomes e apelidos do túnel
Ao longo das décadas, o túnel recebeu diferentes nomes — alguns técnicos, outros carregados de superstição:
“Túnel dos Mortos” – nome popular e o mais conhecido, surgido entre os funcionários do hospital e do IML. Refere-se à função do túnel e aos relatos de fenômenos inexplicáveis no local.
“Túnel do IML” – denominação oficial usada por servidores e em registros administrativos.
“Corredor Subterrâneo do HC” ou “Túnel do Hospital das Clínicas” – nomes adotados por jornalistas e pesquisadores urbanos que o incluíram na rede de passagens subterrâneas do complexo hospitalar.
Mas foi o apelido “Túnel dos Mortos” que ficou na memória da cidade símbolo da linha invisível que une o hospital dos vivos ao silêncio dos mortos.
Caminho do Além, os Fantasmas e Encantados do Túnel
Com o tempo, o túnel tornou-se cenário de relatos sobrenaturais.Funcionários do hospital e do IML afirmam ouvir passos ecoando em corredores vazios, sentir mudanças bruscas de temperatura e até ver vultos atravessando as paredes.
Há quem diga que o ar dentro do túnel é pesado, quase palpável como se o local guardasse ecos das vozes e das dores daqueles que passaram por ali sem retorno.
Reportagens, blogs e programas de TV já exploraram o tema, colhendo depoimentos de enfermeiros, guardas e curiosos.
Em muitas dessas narrativas, o túnel é descrito como mal-assombrado, frio e opressor, um espaço onde o tempo parece suspenso e onde as fronteiras entre o físico e o espiritual se confundem.
O Túnel Hoje – entre o mito e a história
Atualmente, o túnel que liga o Hospital das Clínicas ao antigo prédio do IML ainda existe, mas seu uso é limitado e controlado.
Em algumas épocas, foi desativado ou gradeado por motivos de segurança e modernização das rotas de transporte interno.
Outros trechos foram reaproveitados para infraestruturas técnicas, como dutos de ventilação ou corredores de manutenção.
Apesar de raramente acessível ao público, o “Túnel dos Mortos” permanece vivo na memória coletiva e nas lendas da cidade.
Ele representa um lado pouco conhecido de São Paulo uma metrópole que, mesmo tecnológica e acelerada, ainda guarda sob suas ruas histórias de silêncio, ciência e mistério.
O túnel subterrâneo entre o Hospital das Clínicas e o Instituto Médico Legal é mais do que uma passagem física.
É um símbolo da dualidade paulistana: entre o racional e o espiritual, entre o progresso e o medo, entre a vida e a morte.
Suas paredes frias testemunharam o trabalho científico que revelou verdades ocultas e, ao mesmo tempo, abrigam as vozes e os passos dos que ainda vivem no subsolo, pós morte.




