Sob a Sombra da Chama - Mistérios do Edifício Andraus
- Thais Riotto
- 24 de nov.
- 4 min de leitura

Local: R. Pedro Américo, 32 – República
O Nascimento de um Gigante
Na década de 1960, o centro de São Paulo testemunhou o surgimento de uma estrutura imponente: o Edifício Andraus.
Com 115 metros de altura e 32 andares, ele se erguia na esquina da Avenida São João com a Rua Pedro Américo, no bairro da República.
Projetado pelo arquiteto polonês Majer Botkowski, o edifício foi concebido para aproveitar ao máximo o terreno irregular, resultando em uma forma poligonal única que se destacava na paisagem urbana.
A construção foi realizada pela Organização Construtora e Incorporadora Andraus (OCIAN), e o nome "Andraus" foi escolhido em homenagem ao fundador da empresa, substituindo o nome original "Edifício 50", que indicava ser o quinquagésimo prédio da construtora.
O Incêndio que Marcou a História
Na tarde de 24 de fevereiro de 1972, o Edifício Andraus foi palco de uma tragédia que chocou São Paulo e o Brasil.
Um incêndio de grandes proporções teve início no segundo andar, na seção de crediário das Casas Pirani, localizada no terceiro andar.
A loja ocupava cinco dos 27 andares do prédio. O fogo começou com um curto-circuito nos cartazes de propaganda da loja.
Em menos de dez minutos, o fogo começou a se propagar para os andares inferiores, e então os superiores. Em duas horas, tomou conta de todo o prédio. Menos de uma hora após o início do incêndio, quase todas as guarnições do Corpo de Bombeiros estavam presentes no local. Eles usaram lenços úmidos para se proteger da fumaça, já que não havia máscaras suficientes.
Figueiredo Ferraz, então prefeito de São Paulo, mobilizou ambulâncias de todas as Secretarias da Prefeitura e das Administrações Regionais, carros-pipas e o único helicóptero funcional, que foi primeiro a chegar ao heliponto do edifício para resgatar as vítimas.
Para o reconhecimento da área, o primeiro helicóptero fez algumas evoluções em volta do edifício, e pousou às 17h15 no heliponto, decolando com as primeiras pessoas resgatadas um minuto depois. Segundo o Acervo Folha, mais de cem vítimas foram salvas por helicóptero. O Memória Globo diz que quinhentas pessoas foram resgatadas pelo heliporto.
O incêndio foi o primeiro a ser transmitido em uma grande cobertura da televisão. O comandante do Corpo de Bombeiros declarou, por volta das 21h30, que os trabalhos de rescaldos seriam iniciados.
Os bombeiros ainda não estimavam um número total de mortos, já que o trabalho de resgate das pessoas que estavam no topo do edifício não havia terminado. O incêndio durou aproximadamente sete horas. Durante o período, toda a região em torno do Andraus ficou sem energia elétrica.
De acordo com o IML, dezesseis pessoas morreram carbonizadas ou se atiraram pelas janelas, e outras 320 ficaram feridas.
Após o incêndio, o edifício passou por reformas significativas, incluindo a instalação de parapeitos entre os andares, portas corta-fogo, iluminação de emergência, escadas externas e brigada de incêndio treinada.
A Sehab (Secretaria da Habitação) exigiu a revisão total da instalação elétrica de vários andares, removendo as extensões irregulares e o aquecimento excessivo dos disjuntores. Uma nova escada de emergência foi construída.
Arquitetura e Legado
Apesar da tragédia, o Edifício Andraus permanece como um marco arquitetônico na cidade.
Sua estrutura em concreto armado e a fachada poligonal são características que o distinguem na paisagem urbana. O edifício abriga atualmente repartições públicas e continua sendo um símbolo da modernidade da década de 1960.
Assombrações do Edifício Andraus
Vozes que surgem do nada: Muitas pessoas relatam ouvir gritos de socorro e pedidos de ajuda vindos de andares superiores, principalmente nas áreas que ficaram destruídas pelo fogo. Alguns afirmam que os sons são mais nítidos durante a madrugada, quando o edifício está praticamente vazio. Essas vozes não têm origem aparente, mas parecem carregar angústia e desespero, como se os mortos ainda tentassem escapar do incêndio.
Aparições nas escadas: Testemunhas falam de figuras indistintas nas escadas de emergência, especialmente no trecho que liga os andares superiores ao térreo. Alguns descrevem sombras humanas, que desaparecem quando se tenta se aproximar. Há quem diga que essas figuras lembram trabalhadores ou pessoas que tentaram fugir das chamas em 1972.
O heliponto e a mulher de branco: O heliponto do edifício é outro ponto cercado de mistério. Funcionários antigos afirmam que, em certas noites, uma mulher vestida de branco pode ser vista olhando para o horizonte, na área onde os primeiros resgates de helicóptero ocorreram. Dizem que seu olhar é fixo e vazio, e que ela parece esperar alguém que nunca voltou.
Sensação de calor e cheiro de fumaça: Alguns visitantes relatam sentir calor intenso súbito ou cheiro de fumaça em corredores e escritórios vazios, mesmo sem incêndio ou aquecimento ativo. A experiência é descrita como opressiva, fazendo com que muitos saiam rapidamente do local.
Objetos que se movem sozinhos: Há relatos de objetos que mudam de lugar sem explicação: portas que batem, papéis caem de mesas, janelas que se abrem sozinhas. Embora muitos atribuam isso ao vento ou à vibração do edifício, outros acreditam que os espíritos das vítimas ainda vagam pelos espaços que perderam.
O Edifício Andraus tornou-se, assim, um marco não apenas arquitetônico, mas também do mistério urbano de São Paulo.
Para aqueles que passam por lá à noite, a sensação é de caminhar por um prédio que não esqueceu sua história, onde vidas interrompidas ainda deixam rastros invisíveis, e onde o passado se recusa a descansar.







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